sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Belém de todas as tribos, de todos os riscos

Quem são os riscados da atualidade? Será que a tatuagem é apenas mais uma entre tantas tendências por ai? Tatuagem tem relação direta com caráter?

Por mais que a tatuagem tenha perdido parte da fama negativa que levava há alguns anos, ainda existem, na cabeça de algumas pessoas, vários questionamentos sobre tatuagem e sobre as pessoas tatuadas, mas é importante compreender que a arte de se riscar pode exibir diversas possibilidades, como mostrar seus hábitos, seus amores ou contar a história da sua vida por meio da própria pele. Durante um longo período a tatuagem foi associada à marginalidade e como uma expressão artística exclusivamente masculina, mas nos últimos anos é visível o aumento do número de mulheres se tatuando e mostrando que a arte da tatuagem não é um amor apenas dos homens.


Foto de divulgação


O II Tattoo Day Belém, ocorrido no último fim de semana mostrou ao público um pouco desse mundo de diversidade, aplicado especialmente ao público paraense. O evento contou com atrações culturais, workshops, lojas com as principais novidades do mercado recém chegadas em Belém, o concurso de Miss Tattoo e principalmente diálogos sobre tatuagem e sobre modificações corporais.

Paulo Raphael, do Paulo Tattoo Studio, conta que sua história com a tatuagem começou desde cedo e que o seu estúdio fora praticamente sua creche. Sua relação com os rabiscos começou basicamente pelo desenho e ele contou com o apoio do pai para começar sua carreira como tatuador. Ele revela também que seu trabalho é fruto de muito empenho e dedicação dos desenhos até à compra das máquinas para tatuar. Paulo se inspira bastante no pai, mas afirma que seu maior combustível é a vontade de fazer mais e melhor, de não contentar-se com qualquer resultado e se aperfeiçoar sempre.

Tatuador Paulo Raphael (Foto: Rafael Monteiro)

Apesar de não concordar muito com a imagem negativa que a mídia construiu sobre as modificações corporais, Paulo afirma que a televisão e a mídia como um todo tiveram grande importância para a popularização da tatuagem. Para ele, o problema é quando a pessoa só está fazendo uma tatuagem porque um determinado cantor ou artista faz. Ele acrescenta que sempre procura inspirar o cliente a usar a criatividade para criar um desenho único, diferente dos muitos desenhos frequentemente repetidos nos estúdios.

Sobre mercado de trabalho, sem ser o da tatuagem, ele diz que o preconceito, mesmo que em médias proporções ainda é muito presente e quando um tatuado procura emprego, na maioria das vezes os empregadores dificultam o acesso a vaga quando veem um candidato com esse perfil, para essas e outras problemáticas e ele afirma que é preciso acreditar e provar que  “As pessoas trabalham com a mente e não com a imagem”.

Fotografia: Rafael Monteiro

Jayme Katarro, da banda Delinquentes, afirma que eventos como esse são de suma importância por unir o amor a tatuagem com a desmarginalização da mesma, além de ampliar sua visibilidade para outros grupos de pessoas.

E no bate papo com algumas das candidatas ao Miss Tattoo - Anna Chilli, Crispriest Halford (Cristina Almeida - a vencedora do Miss Tattoo), Yumi Ribeiro e Meg Rufino, se torna visível que a questão de estilo ainda é um pouco estranhada pelo público em geral quando a pessoa de fato assume seu estilo e mais uma vez, é frequente o problema com argumentos do tipo “tatuagem é coisa de marginal”, “você está perdendo a feminilidade fazendo essas coisas”, mas para elas o importante mesmo é ser feliz vivendo a sua arte colocando na pele coisas que proporcionem a sensação de encontrar a verdadeira identidade de cada uma em cada rabisco.

Fotografia: Rafael Monteiro

Além destas conversas, em termos de mercado, é importante observar que já existem produtos a venda no estado especialmente para a pele tatuada como protetor solar que protege tanto a pele quanto a tinta, cicatrizantes, hidratantes e pigmentos ideais para se tatuar a cuidar da pele parda e negra já que cada tonalidade de pele requer cuidados específicos. Estas informações foram dadas pelo Chiko Kahwage, da CKK Arte de Rua.

Entrevista com Chiko Kahwage (Foto: Rafael Monteiro)
O que vale mesmo levar em consideração é que não há mais tempo para levarmos apenas estereótipos em conta, e que não só a capital paraense como o restante do país está com as diferenças de seu povo cada vez mais destacadas e que isso de certa forma é necessário para a construção da identidade contemporânea. Além disso você não precisa mais ter medo de viver seu estilo. 

Luana Coelho

Nenhum comentário:

Postar um comentário